segunda-feira, 20 de abril de 2020

Herois invisiveis.

                                   OS SUPER TUGAS.

06h30-Hora de acordar, o despertador está ligado mas não é necessário, porque desde sempre e sem qualquer explicação racional eu acordo á hora que preciso sem despertadores.
Mais um dia de trabalho, em tempo de pandemia, que desafios me esperam hoje?
Levantar, beber um copo de agua morna com sumo de limão, tratar da higiene.
Visto a roupa que me acompanha já á 16 anos, a minha profissão é das mais invisíveis e até pouco estimada, só nos vêm quando perdem a carteira, ou se sentem mal, depois até nos louvam, enfim...
O perfume já não é o mesmo, não posso ir comprar o meu; tive de comprar um num híper mercado, gosto dele, mas não é o meu cheiro.
O café agora é tirado da maquina da Delta Q, ( Comendador Rui Nabeiro o grande), Pequenos ajustes para sair o mínimo possível de casa...
07h45-Chego ao trabalho, controlo a temperatura, mostro ao colega, 35,3 que anota, e respira fundo, recado para cá, recado para lá, tarefas por fazer. " Pico o cartão" despeço-me do colega á distancia e desinfetados.
Pego na viseira, sou muito grata, a empresa onde eu presto serviço enviou viseiras a contar connosco, as lagrimas chegam-me aos olhos, feliz por estar mais protegida com a viseira, triste porque a normalidade conhecida cada vez está mais longe...
Respiro fundo não há tempo para isso, os homens começam a chegar, colocar a viseira já desinfetada, ajustar e sair para a algazarra que me espera.
Tenho que me impor logo de manha pela fresca, um dos trabalhadores fingiu tossir para cima do outro que foi aos arames...
Falo com um, falo com outro, á parte e baixo, digo ao Chico esperto que a ação dele ( fingir que tosse ) será reportada ao seu superior, esses comportamentos não são tolerados por aqui.
Mando-os ir trabalhar que se faz tarde...
Atender telefones, (5) enviar mails, separar correio, fazer chamadas.
Aí Jesus vem aí um estrangeiro; aconchego mais a viseira; começo a papaguear o costume, english? espanhol?
Tuga que é tuga fala todas as línguas, aos berros é claro.
12h30-Vou tentar almoçar, comer aqui é uma aventura, e ir á casa de banho também.
13h00-Preparar os termómetros e os ouvidos, desinfetar é a palavra de ordem, as mãos escamam como dois peixes de tão lavadas que são.
13h15-Começa a chegar o turno da tarde, lá vamos nós, dá termómetro, tira termómetro, desinfeta, desinfeta.
Ouvir, dia apos dia esse termómetros não são adequados, deviam ser os infravermelhos; Responder dia apos dia; Como sabes esses estão esgotados no mercado a empresa continua á procura...
13h30-Ufa já entraram todos, chega o carteiro, viseira com viseira.
Atender telefones, enviar email"s separar o correio, fazer chamadas, recebe chaves, dár chaves, as horas vão passando.
15h30-Começar a desinfetar o espaço, começo por onde já não vou tocar.
15h45-Chega o colega, dou-lhe o termómetro, anoto a temperatura, desinfeto, os telefones (5) e por fim o teclado e o rato. Passo a informação, este frasco de alcoolgel é paro o XPTO, esta caixa de luvas XL é para o Kk, pede as M que não lhes serve, e dá umas quantas ao JJ, eu já lhe disse que ele está a gastar muito depressa as luvas dele é estranho...
O colega coloca a viseira, e eu tiro a minha e começo a desinfetar, arranjei um saco de pano novo só para ela, sigo para casa.
16h30-Entrar em casa sem tocar em nada, pela porta dos fundos, mudar de roupa tomar banho.
Relaxar a ouvir radio, preparar o jantar, a comida para o almoço do outro dia.
20h00-Enfrentar a dura realidade, ver o telejornal, estar atenta, segundo a minha opinião a partir de Maio todos vamos ter de usar mascaras, senão como é que os confinados vêm ao nosso encontro?
22h00-Controlo da temperatura, 35,2 anoto, ufa, por hoje está bem.
Apago a luz e determinada a proibir a entrada de coronavírus no meu pensamento, conto carneiros até adormecer. E só peço a DEUS que amanha se repita todo o ritual mais ou menos igual...
Reza a lenda, que os que sobrevivem, nem sempre são os mais fortes, mas sim aqueles que se adaptam rapidamente, como canas de bambu lançadas na tempestade, que se vergam mas não partem, resistem e ficam mais fortes, e eu quero ser uma delas...
Viver, continuar com saúde, com os restantes SUPER TUGAS que juntos habitam este chão, esta terra com montanhas, colinas, rios, pedras e mar a que chamamos PORTUGAL...

BEIJÓCAS LAROCAS DA VOSSA SISSI...