O vazio...

O vazio cansou-se de ser ignorado e decidiu partir para a dimensão dos deuses. Mas sábio como é, assim que é chamado comparece no plano terreno, para cumprir a sua missão. A inspiração e o pensamento crítico ressentiram-se com a partida do vazio. Sem o vazio, não havia tempo para pensar a fundo sobre as coisas, claro, o pensamento crítico ficou posto de lado. Sem o vazio não se ouvia a inspiração que alimenta poetas, escritores e os demais artistas... Os humanos empenhados em serem deuses, com os egos inflamados e cegueira pela perfeição nem deram conta. Aos poucos foram ficando mais pobres de ser, mais orgulhosos do ter... O que fazer? A mãe natureza desesperava e chorava, falava com os deuses impotentes. Os humanos a destruir a mãe natureza que os alimenta, dá abrigo, alento, sendo mãe de todos mas maltratada por muitos. O que fazer? O pensamento crítico tentou convencer o vazio a regressar ao plano humano de vez. Explicando-lhe que sem o tempo vazio, ócio, como chamam os humanos, quase ninguém se dedicava a pensar profundamente sobre os assuntos. De nada serviu. A inspiração coitada foi tentar a sua sorte. Explicando ao vazio a sua importância e pedindo que fosse condescendente com os humanos. Que voltasse, para juntos criarem grandes obras. Relembrou-lhe o tempo dos grandes filósofos, dos grandes pintores, escritores músicos, que ainda hoje são discutidos, ouvidos, lidos. O vazio sorriu, belos tempos aqueles, em que ele, a inspiração e o pensamento crítico construíram civilizações. -Vou pensar (disse o vazio) mas para eu voltar algumas coisas vão ter que mudar acho que os humanos não querem ter tempo para mim, nem para vocês. Os humanos só pensam em acumular tralhas e na vaidade, não se amam. – São uns problemáticos; infelizmente vão continuar a matar, não para se alimentar, mas para continuar a ganhar e a caminhar; pró abismo... O que fazer? BEIJÓCAS LARÓCAS DA VOSSA SISSI...